Um marinheiro crioulo (ou seja, um mestiço de sangues negro e índio), com trinta anos de idade, «muito alto e corpulento, figura colossal de cafre», não resiste à atracção física de um grumete de quinze anos, «belo marinheiro de olhos azuis». Pouco depois está construído um pouco habitual triângulo que na casa da portuguesa D. Carolina (mulher fogosa, com desejos de oferecer à experiência do seu corpo maduro um amante jovem) se faz vórtice numa história de fúria sexual e morte, com elementos inter-raciais e pedófilos, servido com uma frieza descritiva que passa ao lado de qualquer julgamento moral das personagens, tudo isto muito mais do que chegava para ser insuportável aos leitores daquele final do século XIX. Adolfo Caminha foi na sua época atacado pela crítica «oficial», e depois dela pelos que ampliaram os seus defeitos, ridicularizam pormenores de estilo isolando-os do contexto com malévola tendência; e se ele conseguiu fazer sob esta desagradável chuva uma carreira que já galgou um século, nunca descolou de si o rótulo de autor «maldito». [Aníbal Fernandes]
Título Original: Bom Crioulo
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Ano de Edição: 1895
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Inf. Web: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bom-Crioulo
Amaro, um escravo fugido, alista-se na Marinha, tornando-se um soldado exemplar. Forte e gentil com todos, recebe o apelido de Bom-Crioulo. Dez anos se passam e Amaro não mostra a mesma disposição para o trabalho, nem tampouco a mesma gentileza, notadamente quando se entrega à bebida. Seu estado de ânimo se altera também na presença de certo grumete, Aleixo, com quem se envolve sexualmente. Amaro conheceu certa vez o amor de uma mulher, mas só agora descobre sua verdadeira inclinação.
Chegam ao Rio de Janeiro e se instalam em uma pensão na Rua da Misericórdia, cuja proprietária, D. Carolina, sabedora da indisposição de Amaro para mulheres, arranja um quarto discreto para os dois. Ali, Aleixo cedia a todos os desejos do amante, como o de observá-lo nu.
Um ano se passa, durante o qual os dois marinheiros levam uma vida matrimonial secreta. Mas Amaro é transferido para outro navio e ocorre a separação que ele tanto temia. Na ausência de Amaro, D. Carolina seduz Aleixo.
Bom-Crioulo, ansioso para rever o amante, desobedece a ordens superiores e, conduzindo um bote de mantimentos, atraca no porto do Rio e se dirige à pensão. Aleixo não aparece durante toda a noite, o que desperta desconfianças e ciúmes em Amaro.
No cais, ainda perturbado pelos ciúmes, embriaga-se a acaba brigando. A polícia é chamada e Amaro é aprisionado e entregue ao comandante do navio, que o castiga de forma tão dura que o marinheiro é conduzido ao hospital. Ali, sofre tanto pelas dores físicas quanto pelo fato de não receber nenhuma visita de Aleixo. Envia-lhe um bilhete, mas D. Carolina o intercepta, temerosa de perder os afetos do novo amante.
Amaro recebe a visita de Herculano, antigo companheiro de embarcação, que revela o envolvimento de Aleixo com uma mulher. Amaro espera a madrugada para fugir. O empregado de uma padaria próxima à pensão confirma o caso amoroso de Aleixo e D. Carolina. Ao avistar o antigo amante, que sai da pensão, Amaro se dirige a ele, cego de ódio, iniciando uma discussão. Pessoas se aproximam dos dois, formando uma roda. D. Carolina desperta com o alvoroço e, abrindo caminho entre a multidão, aproxima-se e vê o amante estendido no chão, com o pescoço cortado, enquanto Amaro, “triste e desolado”, é conduzido por dois policiais.