Em 1998, quando Amós Oz recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Israel, uma ala da direita israelense apresentou queixa num tribunal, alegando que os textos escritos por ele provocavam dor. O que se pode fazer contra a dor que um texto é capaz de provocar? À parte as implicações políticas locais, esse episódio que comporta algo de grotesco apenas confirmou a força da literatura de Oz. Lançado em Israel em 1968 e reeditado agora no Brasil com nova tradução, Meu Michel é o retrato magistral de uma mulher que desliza lentamente para a névoa do delírio esquizofrênico, na Jerusalém da década de 1960. A protagonista, Hana Gonen, trinta anos, é casada com um geólogo calmo, trabalhador, sensível - o "meu Michel" -, um bom cidadão que, ao contrário da mulher, se recusa a estender seus sonhos para além da linha do despertar. Para Michel, o tempo presente é a matéria dócil com a qual se deve moldar o futuro. Já Hana se apega à memória e às palavras como quem se agarra a um parapeito num lugar muito alto. Com o passar do tempo, como uma ravina no deserto - tema da tese de doutorado de Michel -, a fenda entre os dois se alarga. Abandonada aos próprios pensamentos, girando em volta de si mesma, Hana deixa de ter o mundo exterior como referência. Os contornos se borram. Schízo - em grego, "cisão", "separação" - é o termo para esse desgarrar-se da realidade, para o delírio que aos poucos cresce dentro dela como uma planta exuberante, feita do desencontro assustador e doloroso entre atos, desejos, memória e palavra.
Título Original: Michael Shelí
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Ano de Edição: 1987
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Avaliação interna (1 a 5): 3
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Em 1998, quando Amós Oz recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Israel, uma ala da direita israelense mostra queixa num tribunal, alegando que os textos escritos por ele são provocados. O que você pode fazer contra um texto que é capaz de provocar? Em parte, como implicações políticas locais, esse episódio que comporta algo grotesco apenas confirmou a força da literatura de Oz.
Lançado em Israel em 1968 e reeditado agora no Brasil com nova tradução, Meu Michel é o retrato magistral de uma mulher que desliza lentamente para uma névoa do delírio esquizofrênico, em Jerusalém da década de 1960.
A protagonista, Hana Gonen, trinta anos, é casada com um geólogo calmo, trabalhadora, sensível - "meu Michel" -, um bom cidadão que, ao contrário da mulher, pode recusar um estender seus sonhos para além da linha do desespero. Para Michel, o tempo presente é uma matéria conciliatória com qual deve ser o futuro. Já Hana se apega à memória e às palavras como quem agarra um parapeito num lugar muito alto. Com o passar do tempo, como uma ravina no deserto - tema de doutorado de Michel -, uma festa entre os dois se alarga. Abandonado aos pensamentos, girando na mesma, Hana deixa o mundo exterior como referência. Os contornos se borram. Schízo - em grego, "cisão", "separação" - é o termo para esse desgarrar-se da realidade