O título deste romance, derivado de um verso de John Milton (1608-1674) - um poeta cego - que na tragédia Samson Agonistes descreve uma personagem bíblica Sansão como "sem olhos em Gaza, sem moinho com os escravos". Huxley escolhe esse verso como epígrafe e título de seu romance, numa fusão com tema de obra, que é um retrato sem contemplações de espécies humanas, assustador e fascinante pela vaidade e pela alienação transparente em sua conduta e valores. O cenário eleito por Huxley para este estudo complementar da cegueira do homo sapiens é uma alta sociedade inglesa, entre o início do século XX e a década de 1930, onde se mesclam aristocratas decadentes, novos-ricos, intelectuais pretensiosos em meio a arrivistas e boêmios. Contra esse pano de fundo movido a personagem central, Anthony Beavis, um privilégio para quem, como circunstâncias, permite desfrutar de autonomia de pensamento, afluência econômica e ausência de impactos afetados. Sem qualquer esforço moral, Beavis consegue alcançar uma independência de julgamento de um filósofo e a capacidade de renúncia de um santo. Contudo, essa é uma liberdade fácil, que Huxley reprova. Sua intenção é mostrar que não existe uma forma de verdadeira liberdade, e que a indiferença filosófica e o desprendimento do seu herói nada têm como ver com o legítimo pensador ou com o homem de bem.
Título Original: Eyeless in Gaza
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Ano de Edição: 1936
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Avaliação interna (1 a 5): 3
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Essa obra apresenta o desenvolvimento emocional e intelectual de Anthony Beavis, cujos privilégios, os quais ele mesmo reconhece, permitiram-lhe que dedicasse a vida ao pensamento e aos prazeres mundanos. Mas esse egoísmo hedonista de que gozava transforma-se em pacifismo e empatia depois do contato com Miller, médico e antropólogo que Anthony conheceu no México, da mesma forma como foram impactantes em sua transformação as tragédias e os remorsos com que teve de lidar durante a vida. Construído de maneira não cronológica, o romance intercala cenas de diversas fases da vida de Beavis a trechos de seu diário, em que ficam registradas as mudanças de suas concepções filosóficas e políticas. A forma fragmentada, descontínua, escolhida pelo autor deixa ainda mais claro o peso que o passado tem sobre o presente. Essa estrutura também evidencia as discrepâncias entre o idealizado e o vivido, entre o escrito e o experimentado.